Em clima de temor sobre o futuro dos programas de DST/Aids na gestão do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), 26 entidades da área da saúde e redigiram um manifesto recomendando a permanência da política pública entre as prioridades do seu mandato.
“Trata-se de uma política de Estado e não de governo e deve ser entendida como tal”, afirma o documento, elaborado pela Cnaids (comissão nacional das infecções sexualmente transmissíveis), lembrando que a política tem 33 anos e envolve os gestores das três esferas de governo, a sociedade civil organizada e a comunidade científica.
Segundo o manifesto, se não houver a priorização contínua da política de promoção da saúde, de vigilância, prevenção e controle do HIV/Aids e dasinfecções sexualmente transmissíveis, todo o êxito alcançado pelo país no cenário mundial estará fortemente ameaçado. “O que traria prejuízos imensuráveis e, de modo mais preocupante, definitivos.”
O manifesto foi lido nesta terça (30) durante as comemorações dos 30 anos do Centro de Referência e Treinamento de São Paulo e 35 anos do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo.
O evento foi marcado por falas em defesa do SUS e mensagens de resistência diante do atual cenário político. “A gente vai continuar junto. A resposta brasileira à epidemia tem origem no cumprimento da democracia”, disse Fernanda Rick, do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.
Ela lembrou que, no início da epidemia, na década de 80, todos se levantaram a favor da vida. “Que estejamos com a mesma disposição do passado, para lutar contra as mortes e todo o preconceito que insiste em afetar a população mais atingida pela epidemia.”
Marcos Boulos, do Controle de Doenças da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, falou sobre a importância de o programa paulista ter sido pioneiro no Brasil. “Apesar disso, não podia deixar de falar que pode ser que nós não tenhamos mais o mesmo trabalho pelo cenário em que a política social fica subordinada a controle financeiro. Vamos precisar convencê-los da legitimidade do nosso trabalho.”
Ancelmo Figueiredo, do Fórum Paulista LGBT, discursou sobre o medo da homofobia que vive hoje a comunidade LGBT, mas lembrou . Para ele, as pessoas transfóbicas, homofóbicas já saíram do armário.
“Essa crise moral não começou agora. Ela o problema sempre existiu. É muito triste saber que a gente vai viver em um país sabendo que há um presidente que não gosta de dialogar. O que nos conforta é saber que existe uma maioria que não concorda com esse governo.”
Carla Diana, do Fórum de ONGs Aids de São Paulo, também foi na mesma linha. “Vamos permanecer com coragem porque metade do país defende um projeto de governo respeitável. É difícil falar de amor quando sentimos ódio daquelas pessoas que não defenderam um projeto que acreditamos ser melhor. Não importa o que aconteça, vamos nos lembrar de quem nós somos todos os dias e do que podemos ser um para o outro e para nós mesmos.”
Fonte: Folha de São Paulo