Para Jacques Marcovitch, é possível gerar emprego e equilibrar a balança fiscal caso haja uma governança robusta
O Jornal da USP no Ar fez, hoje, uma edição especial de repercussão do resultado das eleições. Para discutir sobre a economia no novo governo, ouvimos o professor Jacques Marcovitch, da Faculdade de Economia e Administração (FEA), ex-diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA), ambos da USP, e ex-reitor da Universidade.
As expectativas econômicas da sociedade brasileira com relação ao novo governo incluem a geração de emprego e de renda, o combate à inflação, uma robusta governança pública, as reformas previdenciária e tributária, além da priorização da economia circular. Mas como o recém-eleito presidente Jair Bolsonaro irá corresponder a essas pautas?
Marcovitch explica que a geração de emprego e renda implica novas competências, nos “empregos verdes” (que reduzem o impacto das empresas no meio ambiente), que podem vir a surgir, e no consequente combate à ilicitude, além da elevação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Para o professor, outro tema importante, que merece atenção na medida em que pede controle, é a inflação. É preciso, então, recuperar os investimentos estrangeiros no Brasil, perdidos em 2014. Ele acredita que as reformas da Previdência e Tributária via um regime de transição cumpriram um importante papel nessa adesão internacional. O último aspecto destacado pelo economista foi a priorização de uma economia circular (conceito que preza pela eficiência e máximo reaproveitamento de recursos), que inclui os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 e as metas da Contribuição Nacional Determinada assumidas no Acordo de Paris.
O professor comentou, também, sobre as declarações da mídia internacional, que, após o resultado das eleições, aproximou o Brasil do espectro político da extrema-direita. Ele defende que essas constatações são simplificações do cenário político do País; segundo ele, o discurso de Bolsonaro cultivou a polarização e isso repercutiu Brasil afora. Agora, os desafios são de que os partidos políticos assumam competência de governança que ainda não demonstraram; que a mídia evite a polarização; e que as universidades devem servir como espaços de diálogo, pluralismo e tolerância.
Marcovitch conta, também, que o discurso de retomada do emprego e da renda, somado ao equilíbrio fiscal defendido por Bolsonaro, é uma tarefa que depende do crescimento econômico. Com a recuperação de investimentos do capital estrangeiro e o uso de poupança internacional disposta ao Brasil é viável e possível cumprir essa meta, afirma. A grande questão é cumprir esse projeto de forma que tenha consenso e seja acolhido pela maioria. Por fim, ele acentua a importância da questão ambiental. Com a adesão de recursos verdes, é possível o uso de fontes de energia renováveis, recuperação de áreas degradadas e a redução da emissão de gases de efeito estufa. Esses fatores constituem canais de investimentos que podem ser úteis ao País no objetivo do crescimento econômico, com impactos favoráveis tanto ambiental quanto socialmente.