As empresas frente aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Para quem observa a partir de uma empresa, os 17 objetivos e 169 metas que compõem os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) podem parecer nada mais que uma lista exagerada de aspirações e boas intenções. O que se...

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Para quem observa a partir de uma empresa, os 17 objetivos e 169 metas que compõem os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) podem parecer nada mais que uma lista exagerada de aspirações e boas intenções. O que se espera de uma empresa frente a isso?

A resposta simples e imediata é reduzir os ODS a instrumento de inspiração ou de comunicação corporativa, onde a empresa possa mostrar todas suas contribuições para solução dos desafios apontados. Por gerar a falsa sensação de que “o assunto está sendo tratado e a empresa está fazendo sua parte”, essa abordagem é não só limitada, mas também perigosa.

Os ODS são parte de um contexto maior – a Agenda 2030 – e representam uma síntese dos desafios criados pelos excepcionais  crescimento econômico, avanço tecnológico e aumento populacional ocorridos no século XX. Tem inédito respaldo político e científico, em nível global, e delineiam um cenário frente à transformação que – inevitavelmente – ocorrerá na economia e na sociedade mundial nos próximos 20 a 30 anos. Os textos de acordos costurados em negociações multilaterais são em geral prolixos e soam pouco práticos para quem vive o mundo pragmático dos negócios, mas há prêmios relevantes para quem os decifra.

No caso da Agenda 2030, os ODS são um foco fundamental, mas a mensagem crucial para as empresas surge apenas quando os combinamos com outros elementos-chave desse mesmo framework: perspectiva integrada, prática efetiva e atuação interdependente. É a capacidade de compreender e articular esses fatores que fará dos ODS um diferencial estratégico para a empresa, e não um fator de acomodação ou discurso superficial. Em poucas palavras, perspectiva integrada significa levar em conta o conjunto dos ODS, avaliando em que medida os avanços em relação a um objetivo desejado trazem impactos positivos ou negativos sobre os demais ODS. Significa, também, considerar em conjunto todo o processo de geração de valor, dentro e fora da empresa. Já a prática efetiva refere-se ao fato de que o atingimento dos ODS é um compromisso com prazos e resultados ambiciosos, que requer o investimento de recursos, e seu consequente monitoramento. Finalmente a atuação interdependente diz respeito à compreensão de que superar o desafio em pauta não é tarefa para uma única organização ou setor, sendo requerida a construção de modelos de negócio, de conhecimentos e de arcabouços institucionais que favoreçam a sinergia e a cooperação produtiva entre os atores econômicos.

O modelo da exploração ilimitada dos recursos do planeta, além de não responder às necessidades e desafios que enfrentamos atualmente, projeta uma realidade sombria para as futuras gerações. Já não faz sentido, qualquer que seja o sistema econômico, um planejamento que não contemple a sustentabilidade baseada no framework exposto acima. A meta de assegurar padrões de produção e consumo sustentáveis é uma resposta poderosa a estes desafios sem precedentes. Vale ressaltar que o conceito de produção e consumo sustentável não implica simplesmente em consumir ou produzir menos bens. Trata-se da adoção de diferentes padrões de consumo e de produção mais eficientes e menos consumidores de recursos. Olhando tanto para o lado da demanda (consumo) quanto para da oferta (produção), é imperativo buscar proporcionar equilíbrio para ambos pessoas e planeta. As boas práticas efetivas precisam ser transformadas em regras e consolidadas como padrão geral.

Neste sentido, é imprescindível contribuir para que as políticas e programas públicos, as instituições e as práticas empresariais tenham capacidade de incidir sobre os processos formais e informais de produção do conhecimento, das atitudes e comportamentos, visando promover o desenvolvimento de uma cultura da sustentabilidade, apoiada em valores éticos, humanistas e democráticos e orientada por uma visão de bem-estar, qualidade de vida e progresso, que valorize a cidadania, a sociodiversidade e a biodiversidade brasileira. O desenvolvimento de uma cultura de sustentabilidade na sociedade aumentará o nível de exigência dos cidadãos e organizações em relação aos bens e serviços públicos e privados e, em consequência, ampliará o espaço para diferenciação dos produtos e comportamentos das empresas.

Essa missão, como se vê, não é trivial. Realizá- la será tarefa de vários anos, e implicará profundas mudanças nas empresas, e até mesmo em seus modelos de negócio. Pode parecer um preço alto, mas, ao que tudo indica, é o que fará a diferença entre prosperar nas próximas décadas e apenas sobreviver, ou nem isso.

Instituto Ethos
GVces – Centro de Estudos em Sustentabilidade

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