Em março de 2016, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) assumiu a Presidência da Comissão de Estatística da Organização das Nações Unidas (ONU). A escolha “é um sinal de reconhecimento do prestígio internacional do Brasil na produção de estatísticas públicas oficiais”, porém, traz um grande desafio: a coordenação da escolha dos indicadores dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Mediante uma análise independente da ONU, o Center for Global Development (CGD) suscitou inúmeros desafios para o monitoramento e avaliação dos indicadores dos ODS. Na análise, o CGD enquadrou os dados em três categorias, já estabelecidas pelo Grupo Interinstitucional e de Especialistas sobre os Indicadores dos ODS (IAEG-SDG), sendo elas: 1) Tier I: indicadores que possuem uma metodologia definida e produzem dados regularmente; 2) Tier II: indicadores que tem uma metodologia definida, mas sem produção de dados regulares; 3) Tier III: indicadores sem metodologias definidas.
Apenas 42% dos indicadores se enquadram na categoria Tier I, ou seja, aquelas com metodologias já definidas e com produção regular de dados. Além disso, apenas 62% dos indicadores Tier I – ou 25% de todos indicadores – podem ser acessados publicamente online.
Para alguns objetivos, como o ODS 7 (Energias Renováveis) e ODS 9 (Inovação e Infraestrutura), a maioria dos indicadores é classificada comoTier I, contudo, o ODS 13 (Combate às mudanças climáticas) não possui nenhum indicador Tier I, ressaltando que não há um único indicador com uma metodologia definida, nem dados disponíveis para acompanhar o progresso desse objetivo.
A análise do CGD também buscou a disponibilidade e a extensão dos dados – em termos de cobertura por país e frequência dos estudos. No caso da disponibilidade, não há informações públicas disponíveis para o ODS 14 (Vida debaixo da água). Em outros casos, os dados possuem metodologias definidas, mas não são publicamente acessíveis. Por exemplo, os indicadores da União das Telecomunicações Internacionais estão disponíveis apenas para compra. Outros 15 indicadores exigem cálculos adicionais – com os dados públicos – para as suas obtenções.
Se por um lado, a ONU insiste no discurso de que ninguém será deixado para trás (no one leave behind), um dos primeiros desafios seria: ninguém se tornará invisível nesse mar de dados, indicadores e falta de acessibilidade.
Fonte: CEIRI NEWSPAPER