Um incêndio causou o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no largo do Paissandu, no centro de São Paulo. Com 24 andares, o prédio estava sem uso social há 17 anos e foi ocupado pelo movimento Luta por Moradia Digna há pelo menos 5 anos, abrigando 146 famílias, com 372 pessoas. Dessas morreu Ricardo, que não se sabe o sobrenome, e outros 44 sem paradeiro desconhecido – afinal, não se sabe se eles estavam no interior do edifício.
As chamas ainda nem tinham sido apagadas e já se distribuíam acusações sobre a responsabilidade do desastre, que também provocou prejuízos nos imóveis vizinhos. Um inquérito apurando o risco no prédio tinha sido arquivado há 45 dias. Ainda assim, a Secretaria de Habitação do município tentava convencer as lideranças da necessidade da desocupação: nos últimos 3 meses foram realizadas seis reuniões com este propósito.
Outras tragédias assim podem acontecer. De quem é a responsabilidade? Do poder público que falha em dar alternativas para essas pessoas, dos líderes que atraem e organizam essas pessoas para a ocupação ou das pessoas que decidem permanecer, mesmo com os avisos de que estes prédios não são seguros?
De acordo com reportagem do Caos Planejado, em censo realizado em 2010 haviam cerca de 651.701 domicílios vagos na Região Metropolitana de São Paulo, ao passo que o déficit habitacional na mesma área era de 596.232 unidades – em suma, há mais casas vagas que famílias precisando de moradia.
Muito além de um caso isolado, as cenas trágicas expuseram um problema grave na maior capital do país, que se repete em outras cidades do Brasil e pelo mundo: a crise habitacional.
Para entender melhor todas as camadas que envolvem as tentativas de resolver um problema tão complexo, trouxemos duas ajudas de peso: João Whitaker Ferreira, coordenador do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP; e Preta Ferreira, militante do MSTC (Movimento Sem Teto do Centro).
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Fonte: Podcast Mamilos