Relatório adverte sobre riscos do clima nos mercados

Por Daniela Chiaretti | De São Paulo Denise Pavarina, diretora-executiva do Bradesco: "Não é uma discussão sobre clima, mas de informação financeira" Um relatório global sobre os riscos da mudança do clima no mercado de...
Por Daniela Chiaretti | De São Paulo

Denise Pavarina, diretora-executiva do Bradesco: “Não é uma discussão sobre clima, mas de informação financeira”

Um relatório global sobre os riscos da mudança do clima no mercado de capitais sairá em dezembro, feito por especialistas de bancos, seguradoras, empresas e bolsas de valores de várias partes do mundo. O foco será recomendações para empresas e investidores conseguirem tornar transparentes suas ações na transição para a economia de baixo carbono.

As recomendações para que empresas façam o que em inglês é conhecido como “disclosure” são o primeiro produto assinado pelos especialistas da força-tarefa do Conselho de Estabilidade Financeira, (FSB, na sigla em inglês). O FSB é considerado o regulador global do mercado financeiro. Estima-se que os países que compõem o FSB produzem 90% das emissões globais de efeito-estufa e respondem por 95% dos ativos financeiros mundiais.

“Nossa missão é preparar o caminho para uma vida com menos emissão de carbono”, disse ao Valor Denise Pavarina, diretora-executiva do Bradesco e uma das quatro vice-presidentes da Força-Tarefa (“Task Force”), a única representante da América Latina.

“Trata-se da primeira iniciativa liderada pelo setor privado com esse foco específico, de “disclosure”, para permitir a avaliação de riscos e oportunidades nas empresas”, continua. Ela deixa claro: “Não é uma discussão sobre clima, mas de informação financeira”.

Produzir relatórios financeiros que reflitam a vertente climática nas estratégias das empresas é o grande objetivo deste esforço. A iniciativa global reúne pesos-pesados do setor financeiro, seguradoras e grandes corporações como Deloitte, Ernest Young, KPMG e Unilever, para citar algumas.

“O objetivo desse trabalho é prover informações para que o setor de crédito, de investimento, as seguradoras e as empresas tenham condição de se preparar para a transição e chegarmos lá na frente com capacidade de reduzirmos o aquecimento ao limite de 2º C”, diz Denise.

A “FSB Task Force on Climate-related Financial Disclosures” foi criada em 4 de dezembro, durante a conferência do clima de Paris, a CoP 21, pelo canadense Mark Carney, presidente do Banco da Inglaterra (BoE) e do FSB.

Na ocasião, Carney advertiu para os riscos físicos da mudança do clima (perdas com inundações, secas, chuvas fortes) e os não físicos. Neste quesito há questões legais, de tecnologia e de mercado. O espectro vai desde investidores processando empresas que não divulgaram riscos a ativos em reservas de combustíveis fósseis que podem perder valor no futuro, em uma economia de baixo carbono.

A “Task Force” tem 31 membros. O presidente é Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York e fundador da agência de notícias Bloomberg. São quatro vice-presidentes. Ao lado de Denise Pavarina estão Graeme Pitkethly, que coordena as finanças da Unilever; Christian Thimann, membro do comitê executivo da seguradora Axa; e Yeo Lian Sim, conselheira especial da Bolsa de Valores de Cingapura.

O relatório a ser divulgado em dezembro “é um conjunto de recomendações para a divulgação voluntária de riscos e oportunidades que existem para o setor financeiro, indústrias e serviços, com foco nas empresas listadas ou emissoras de títulos”, afirma Denise.

As recomendações ainda não foram fechadas. O trabalho segue oito princípios: as informações prestadas têm que ser relevantes, claras, consistentes ao longo do tempo e comparáveis entre empresas do mesmo setor. Também devem ser confiáveis e verificáveis e serem fornecidas com periodicidade acordada.

“Muitas empresas já dão informação. Mas cada uma faz de uma maneira, com especificidade e periodicidade diferentes, com focos diversos”, constata a executiva do Bradesco. “Nosso trabalho é fazer um grande alinhamento.”

França, Austrália e Canadá são países com legislações avançadas sobre o assunto. Na primeira fase do trabalho, a Task Force fez um diagnóstico das regras existentes nos países, quais riscos seriam considerados, para quem seria direcionado. “Mapeamos as melhores práticas em termos de informação sobre risco climático”, diz Denise.

As recomendações serão sobre governança, gestão dos riscos, métricas. “Não buscamos resultado imediato, mas o processo. Queremos que empresas e investidores conheçam o assunto, que o incluam nas discussões estratégicas e fiquem confortáveis ao fazer o disclosure”, explica.

O item governança, por exemplo, abordará quem é responsável diretamente por esse tema na empresa, como ele se insere nas decisões e nas diretorias.

“O Task Force foi estabelecido para que tenhamos uma visão do eventual risco sistêmico financeiro que a mudança do clima possa trazer e as oportunidades. E como isso se materializa em informação consistente e relevante para que o mercado possa se aparelhar”, afirma.

Eventos de divulgação da iniciativa estão ocorrendo em Londres, Cingapura, Nova York, Paris, Washington. Em São Paulo a “Task Force” será apresentada amanhã.

Fonte: Valor Econômico